Nos últimos anos, o modo como os jovens se relacionam com alimentação, corpo e exercício físico passou por uma transformação significativa. Parte disso se deve ao crescimento das redes sociais, que deixaram de ser apenas espaços de entretenimento para se tornarem vitrines de estilo de vida, saúde e bem-estar. No Instagram, TikTok e YouTube, milhões de vídeos mostram rotinas de treino, receitas saudáveis, dietas da moda e antes-e-depois que viralizam em questão de horas.
Essa exposição constante a conteúdos relacionados ao corpo e à performance influencia diretamente os hábitos das novas gerações. Cada vez mais jovens buscam se exercitar regularmente, adotar uma alimentação considerada “limpa” e investir em produtos que prometem ajudar no ganho de massa muscular, disposição e energia. Ainda que esse movimento traga aspectos positivos – como maior interesse pela saúde – ele também levanta debates importantes sobre comparação, pressão estética e escolhas motivadas por modismos.
Quando o treino vira conteúdo
A prática de atividade física, que sempre esteve presente na vida de muitas pessoas, ganhou um novo status com a chegada das redes sociais. Agora, não basta treinar: é preciso mostrar. Publicar a selfie pós-academia, registrar o tempo do treino, compartilhar o batimento cardíaco, os passos dados e até o tipo de pré-treino ingerido se tornou comum entre jovens que usam o feed como um diário público da jornada fitness.
Essa necessidade de exposição, embora não seja exclusiva da geração Z, encontrou nas redes o terreno ideal para crescer. Aplicativos como Strava, por exemplo, transformaram o ato de correr em uma competição social. Já no TikTok, vídeos com treinos rápidos, desafios de 30 dias e “rotinas matinais produtivas” acumulam bilhões de visualizações.
Com isso, o exercício físico deixa de ser uma prática exclusivamente voltada à saúde ou ao lazer e passa a funcionar como parte da construção da identidade digital. Treinar se torna sinônimo de disciplina, foco e até sucesso – atributos valorizados nas redes e, por consequência, na vida real.
Alimentação sob os holofotes
Junto com o culto ao treino, veio o foco na alimentação. Jovens cada vez mais informados – e, muitas vezes, pressionados – passaram a prestar atenção ao que comem. Não é raro encontrar adolescentes debatendo sobre a quantidade de proteína ideal por refeição, o impacto dos ultraprocessados ou a importância do jejum intermitente, mesmo sem qualquer formação técnica na área.
Boa parte desse conhecimento vem de vídeos curtos, influenciadores e tendências virais que prometem resultados rápidos. Embora existam criadores de conteúdo sérios e comprometidos com informações seguras, também há um volume significativo de conteúdos sem embasamento, que reforçam padrões de beleza inalcançáveis ou promovem dietas restritivas sem orientação.
Ainda assim, o interesse pela alimentação saudável cresceu. Muitos jovens passaram a preparar suas próprias refeições, evitar lanches ultraprocessados e buscar formas práticas de atingir metas de macronutrientes. Nesse contexto, a suplementação ganhou força. Marcas como o Whey Protein Growth se tornaram populares entre o público jovem por oferecerem proteínas de rápida absorção e bom custo-benefício, sendo frequentemente citadas em vídeos de “o que eu como em um dia” ou “como montar uma dieta acessível”.
Mais do que um produto nutricional, o whey se tornou um símbolo de pertencimento ao universo fitness digital. Estar com o pote de suplemento na prateleira ou na mochila da academia é, para muitos, parte do ritual de quem leva o treino a sério — ou, pelo menos, deseja parecer que sim.
O poder dos influenciadores
Não se pode falar da relação entre redes sociais e comportamento juvenil sem mencionar o papel dos influenciadores. Eles funcionam, para milhões de jovens, como referência de estilo de vida, corpo ideal e hábitos alimentares. Diferente das celebridades tradicionais, os influenciadores digitais parecem mais próximos, mais “gente como a gente”, o que aumenta sua capacidade de persuasão.
Quando um criador de conteúdo compartilha sua rotina de treinos, sua alimentação e os produtos que consome, ele não está apenas informando – está moldando comportamentos. A recomendação de um suplemento, uma marca de roupa ou até uma metodologia de treino pode ganhar força rapidamente, mesmo sem qualquer validação técnica.
Essa dinâmica é especialmente sensível quando falamos de adolescentes, que ainda estão em processo de formação de identidade e podem adotar hábitos baseados mais na vontade de se encaixar do que em uma reflexão consciente. O que está em jogo, muitas vezes, não é apenas saúde, mas autoestima, aceitação e visibilidade digital.
A linha tênue entre inspiração e pressão
É inegável que as redes sociais têm um papel positivo ao estimular a prática de atividade física e o interesse por alimentação equilibrada. Muitos jovens encontraram, nesses espaços, motivação para sair do sedentarismo, melhorar a relação com o corpo e aprender a cozinhar de maneira mais saudável.
Por outro lado, o excesso de estímulos, a comparação constante e a valorização exagerada da performance ou da aparência física podem gerar efeitos negativos. Casos de ansiedade, transtornos alimentares e distorção da imagem corporal têm sido cada vez mais relatados, especialmente entre adolescentes que se sentem pressionados a alcançar padrões irreais mostrados na internet.
A chave está no equilíbrio, algo difícil de alcançar em um ambiente onde a perfeição é frequentemente encenada, editada e filtrada. É importante lembrar que por trás de um “antes e depois” impactante pode haver uma série de fatores não revelados: genética, edição de imagem, restrições alimentares extremas ou até uso de recursos farmacológicos.
O consumo no ritmo da internet
Essa transformação do estilo de vida jovem impacta diretamente o mercado de consumo. Marcas de roupas esportivas, equipamentos de treino, aplicativos fitness e suplementos alimentares encontraram nas redes um canal direto com seu público-alvo. E os jovens, por sua vez, estão cada vez mais atentos às tendências, lançamentos e oportunidades.
É comum ver vídeos que comparam marcas de suplementos, indicam os “melhores pré-treinos” do momento ou revelam onde encontrar aquele descontaço em produtos populares. Essa busca por qualidade com preço acessível faz parte do comportamento digital da geração conectada, que valoriza marcas com presença online ativa e uma comunicação próxima de seu universo.
Promoções relâmpago, cupons de influenciadores e campanhas com linguagem jovem ajudam a consolidar marcas entre esse público, que raramente compra por impulso. Em vez disso, pesquisa, compara, assiste a vídeos e lê avaliações antes de tomar a decisão de compra.
Uma nova cultura de bem-estar (e de imagem)
No fim das contas, o que se observa é a construção de uma nova cultura em torno da saúde, do bem-estar e da imagem corporal. Treinar, comer de forma “fit” e cuidar da estética não são apenas práticas – são formas de se expressar e pertencer a determinados grupos sociais.
As redes sociais não apenas refletem essa cultura, mas a alimentam constantemente. Influenciam o que os jovens comem, como treinam, como se vestem e até como se veem. Ao mesmo tempo, dão voz a diferentes perfis, histórias e vivências, permitindo que discursos mais diversos ganhem espaço – inclusive os que questionam os padrões dominantes.
Papel central
As redes sociais têm um papel central na formação dos hábitos alimentares e esportivos dos jovens. Elas oferecem informação, motivação e pertencimento, mas também trazem riscos relacionados à comparação excessiva, pressão estética e consumo impulsivo.
Em meio a vídeos inspiradores, posts bem editados e recomendações de produtos, o que mais importa é a construção de uma relação saudável com o próprio corpo. Afinal, esta é uma jornada que deve ir além dos algoritmos, dos números na balança ou dos likes na postagem do treino.